domingo, 7 de agosto de 2011

As três ondas do feminismo

  • S. de Beauvoir representa a "primeira onda" do feminismo, pois coube a ela forjar o conceito de gênero quando disse "não se nasce mulher, tonar-se mulher", ou seja, a mulher torna-se mulher duas vezes, quando nasce e ao longo da vida. O gênero "mulher" está sujeito às relações desiguais de distribuição econômica e política. Como disse G, Lopes Louro (1997, 37), "Os estudos feministas estiveram sempre centralmente preocupados com as relações de poder".
  • As feministas da "segunda onda" detectam uma abordagem muito pequeno burguesa nos estudos de gênero e passaram a reivindicar uma legislação específica que atendesse aos interesses das mulheres de todas as classe sociais (com creches, atendimento médico adequado, política de aborto etc.). Na visão dessas feministas o Estado poderia ser o motor das melhorias. Nessa segunda onda, podemos incluir as propostas de Fraser e Nussbaum ambas acreditam, de diferentes modos que haja uma racionalidade, uma lógica, por trás dessas reivindicações que é facilmente conferida por qualquer cidadão, independente do gênero. Ainda na segunda onda, estão as filósofas multiculturalistas como Linda Zerilli e Iris Young que não compartilham a noção de uma racionalidade neutra, capaz de produzir leis e juízos absolutamente equânimes etc.
  • Hoje temos uma "terceira onda", que alguns dizem ser pós-feministas (mas que autoras como Judith Butler dizem que não, que são sim feministas). A ideia básica desse grupo é a de que o sexo/sexualidade e, principalmente a heteronormatividade, pautada na finalidade reprodutiva da sexualidade, como o gênero tb. é produto social. Esse grupo não acredita na capacidade do Estado de atender aos interesses dos indivíduos, pois o Estado, e as políticas públicas, trabalha com a lógica da norma, isto é, da lei, e da produção capitalista. Poderíamos chamar esse grupo de antiliberal ou mesmo anárquico, mas é um equivoco, na minha opinião, dizer que fogem das questões políticas. O problema é que a concepção de política desse grupo é completamente distinta do que estamos acostumados/as a pensar, baseia-se em uma política nietzschiana-foucaultina. Há dois elementos importantes nesta última perspectiva que precisam ser separados um do outro. Por um lado, está a infinita possibilidade de transformação social do corpo (dispositivos e tecnologias córporeas, tais como piercing, silicone, tatuagem, travestimento, entram em jogo para questionar a ordem binária que exclui os corpos abjetos), por outro está o reconhecimento de que o corpo não é uma matéria amorfa a espera de sua transformação, mas ele também guarda uma configuração específica que resiste a sua transformação, mas que não existe per se, mas sim esse corpo foi constituido performaticamente ao longo de uma série de ações repetidas.

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