domingo, 5 de fevereiro de 2012

resumo da Helena

Resumo texto “Um manifesto para os cyborgs: ciência, tecnologia e feminismo  socialista na década de 80.” Donna Haraway



Por Helena Vieira



A imagística dos cyborgs pode sugerir uma maneira de sair do labirinto dos dualismos com os quais explicamos a nós mesmos nossos corpos e nossos instrumentos. Este é o sonho não de uma linguagem comum, mas de uma heteroglossia poderosa e infiel. Representa uma imaginação de um feminismo falado em várias línguas para incluir medo nos circuitos das supersalvadoras da nova direita. Significa ao mesmo tempo construir e destruir máquinas, identidades, categorias, relações, espaços, histórias. Ainda que ambos tenham sido engendrados na mesma dança espiralada, prefiro ser um cyborg a ser uma deusa.(D:283).





A autora faz um ensaio sobre a   imagem dos cyborgs para falar sobre o mito da pureza e unidade no feminismo socialista do século XXI nos EUA, propondo uma analogia entre maquinas e humanos. O texto esta dividido em dois eixos.

Feminismo socialista:

Estrutura de classe/trabalho/alienação

Feminismo radical:

Estrutura de gênero/apropriação sexual/reificação

Na primeira   parte ela  faz uma analogia sobre a as máquinas nos nossos dias. “Um cyborg é um organismo cibernético híbrido; é máquina e organismo, uma criatura ligada não só à realidade social como à ficção (D:243).” Os cyborgs são criaturas simultaneamente animal e máquina que habitam mundos ambiguamente naturais e construídos. Já é cada vez mais difícil situar a fronteira entre o físico e o não físico, as maquinas modernas estão por toda a parte e são invisíveis. A maquinaria moderna é um deus pretensioso e irreverente, fazendo pouco da onipresença do Pai.  Ao longo do texto Haraway  irá demonstrar a sua tese de que não há caminho possível para o feminismo, para o novo feminismo,  enquanto tentar  aglutinar  naturalmente todas as mulheres em um mesmo grupo.  Haverá sempre diferenças entre raça e classe entre os diversos grupos de mulheres.

Seu argumento é de que os cyborgs são um mapeamento ficcional entre a realidade social e corporal, além de uma fonte imaginativa que sugere associações frutíferas (D:244). As máquinas das últimas décadas do século XX tornaram ambígua a diferença entre natural e artificial, corpo e mente, autodesenvolvimento e projeto exterior, além de muitas outras distinções que costumavam aplicar-se a organismos e máquinas. Nossas máquinas são perturbadoramente vivas e nós apavoradamente inertes (D:247).

Uma de suas premissas é que grande parte  dos socialistas americanos, e das feministas, veem dualismo profundo entre corpo e mente, animal e máquina, idealismo e materialismo nas práticas sociais. (D:249).

Inicia a segunda parte colocando as dificuldades de unidade entre os vários grupos feministas.  A autora sustenta que não há absolutamente nada a respeito do ser “mulher” que aglutine naturalmente todas as mulheres. O conceito de mulher se tornou indefinível, uma desculpa para a matriz das dominações femininas sobre as outras mulheres. Haraway critica a metodologia de algumas autoras em tratar do feminismo sob uma perspectiva única histórica e classificatória, que exclui e marginaliza outras formas de feminismo. As taxonomias do feminismo produzem epistemologias que policiam qualquer desvio da experiência oficial das mulheres. E, naturalmente, a “cultura das mulheres”, como mulheres de cor, é criada conscientemente por mecanismos que induzem à afinidade (D:252), são portanto construções forçosas e não naturais. Para Haraway  a ideia de unidade é herdeira do momento revolucionário, em que era necessário para as lutas por conquistas socialistas, mas que hoje ela compreende a dor que significa ter um corpo historicamente construído. As feministas socialistas foram forçadas a perceber  que não há inocência na categoria “mulher”. Que tipo de politica poderia abraçar as construções parciais contraditórias e permanentemente abertas das subjetividades pessoais e coletivas e ainda se manter, ironicamente, feminista e socialista? (D:253).

É a partir desta perspectiva não-naturalista, pós-moderna, pós-gênero  que ela propôe a ideia de uma criatura, que compreenda os diversos feminismos, e suas diferentes reivindicações;  o cyborg. A política cyborg é a luta pela linguagem e contra a perfeita comunicação, contra aquele código que traduza todos os significados perfeitamente, o dogma central do falo-logocentrismo. (D:276).







A   feminilização  e maquinização do trabalho.



                       As tecnologias de comunicação e as biotecnologias são instrumentos cruciais no readestramento de nossos corpos. Estes instrumentos incorporam e reforçam as novas relações sociais para as mulheres do mundo inteiro. (D: 262)





Haraway nesta parte argumenta que o feminismo radical adotou uma estratégia analítica diferente do marxismo ao olhar não para a estrutura de classe, mas para a estrutura gênero/sexo e suas relações gerativas, a constituição do homem e a apropriação sexual das mulheres.

Na era da mecanização do trabalho a exploração do trabalho se organiza diferente. O trabalho esta sendo redefinido como literalmente feminino e feminizado, não se importando se feito por homens ou mulheres. Ser feminizado significa possuir uma extrema vulnerabilidade; significa tornar-se capaz de ser desmontado, remontado e explorado como uma força de trabalho reserva.



                           Quadro da feminização da pobreza:



·         Desmantelamento da previdência social pela economia de trabalho doméstico, onde os empregos estáveis tornaram-se exceção

·         Novos arranjos econômicos e tecnológicos se encontram também ligados ao estado calamitoso da previdência social e à consequente intensificação da responsabilidade das mulheres no sentido de sustentarem a si, aos homens, às crianças, e aos idosos.

·         Mulheres que como mães já sustentam a casa parcialmente não é novo, a novidade esta em  o tipo de integração à economia fundamentalmente capitalista baseada na privação.

·         Pressão sobre as mulheres negras  norte-americanas que saíram dos serviços domésticos mal pagos e foram para o trabalho burocrático tem grandes implicações pra a contínua e sempre reforçada pobreza dos negros “que possuem” empregos.

·         Adolescentes em áreas de industrialização do terceiro mundo, em áreas que a questão à terra é problemático, tornam-se cada vez mais a única fonte de renda das suas famílias.

(D: 267)



A conclusão que a autora faz desta parte é que a feminização do trabalho ocorre á medida que, em países desenvolvidos o trabalho masculino é cada vez mais substituído pela robótica e a tecnologia e nos de terceiro mundo esta mesma lógica fracassa uma vez que há a superprodução de trabalho, e aí que a  feminização do trabalho intensifica-se.



           Cyborg: um mito da identidade política



Cyborg é uma alegoria sobre a impossibilidade de naturalização das pessoas e objetos, principalmente a naturalização das mulheres, que normalmente tem seus corpos construídos e  pensados a partir de uma  exterioridade, individuação mais fraca, maior relação com o oral, com a Mãe.

Toda história   que começa com inocência original e privilegia o retorno ao todo inventa o drama da vida como um exemplo de individuação, separação, o nascimento do eu, a tragédia da autonomia,  a queda na escritura, a alienação, isto é, a guerra, temperada com a suspensão imaginária no seio do Outro. (D: 277).

A conclusão do texto é que  os diversos tipos de feminismos e de marxismos em busca de um sujeito revolucionário terminaram por perpetuar uma perspectiva apenas de hierarquia de opressões ou uma posição latente de superioridade moral, inocência e uma maior aproximação da natureza. Pela perspectiva cyborg reconhecer-“se”  como totalmente implicado no mundo liberta-nos da necessidade de enraizar a política dos conceitos de identificação, partidos de vanguarda, pureza e maternidade (D: 277).

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